top of page

Willian dias

Pauta e Realização: Edivaldo Junior, Julia Barduco, Ju Kopp, Karol Cardoso e Lucas Raniel;

Edição: Ju Kopp e Karol Cardoso

Olhe Udi!: Desde quando o senhor trabalha com isso?

 

Willian: Com essa arte deve fazer uns 5 anos.

 

OU!: Como você começou e onde veio a ideia?

 

W: Ah, em um dia de domingo, sem fazer nada, eu resolvi ir no Parque do Sabiá dar uma andada. Chegando lá eu vi um homem da prefeitura dentro do parque e uma fila. Fui ver o que tava acontecendo. Aí cheguei lá, vi um pessoal pintando uns azulejos. Aí o cara que tava fazendo já foi me pedindo pra escolher as cores. Eu gostei, perguntei se ele não dava aula dessas pinturas com a mão, ele falou que dava, aí marcamos um lugar. Meu curso demorou dois mês, sendo uma vez por semana com duas horas de aula. Tudo deu 16 horas de aula. Deu certo. Só que teve gente que ficou dois anos lá e não sabe fazer nada.

 

OU!: O que o senhor fazia antes de começar a pintar?

 

W: Sou marceneiro.

 

OU!: Essas tintas são acrílicas?

 

W: A óleo.

Willian deu uma pausa na nossa conversa para atender um cliente que procurava notas antigas, as quais ele também vende. Depois aprovou a ideia de fazermos vídeos da produção de seus azulejos e até pediu para enviarmos pra ele.

OU!: O que o senhor pensa quando tá desenho?

 

W: Nada (risos). Mas a inspiração vem de Deus. Fora que eu me lembro de algumas artes que já fiz e vou copiando, porque por mais que eu faça dez, vinte vezes, nunca sai igual.

 

OU!: O senhor é de Uberlândia mesmo?

 

W: Sou.

 

OU!: Nascido e criado?

 

W: Não, nascido não, mas já faz mais de trinta anos que eu estou aqui. Já morei em Goiás, depois vim pra Minas.

 

OU!: Gostou daqui?

 

W: Ôh... Uberlândia é bom. Lugar bom de se viver!

 

OU!: E o senhor costuma pintar aqui na praça mesmo?

 

W: Ah, eu fico mudando de lugar. 

 

OU!: Sobre sua arte, o senhor pinta só com as mãos ou com pincel também?

 

W: Pincel eu não uso não porque não sei desenhar. Desenho eu tenho que olhar e copiar. Esse aqui com as mãos não, esse vai saindo da mente. O lance é arriscar.

 

OU!: Arte é sempre arte!

Willian nos mostra os primeiros resultados do azulejo que produziu para nós.

OU!: Como foi a primeira vez que o senhor veio pra cá?

 

W: A primeira vez foi engraçado. Eu não olhava pra ninguém nem conversava. Não era vergonha, era sei lá, uma coisa diferente estar aqui. Mas foi muito bom.

 

OU!: Ainda bem que o senhor continuou por aqui. O senhor gosta do que o senhor vê quando termina ou sempre acha que dá pra melhorar?

 

W: Nunca vi passar uma pessoa sequer pra falar “esse tá feio”. Talvez uma dia eu consiga achar.

 

OU!: O senhor acaba conhecendo o pessoal que trabalha aqui, não?

 

W: Olha, onde eu passo eu faço amizade. O meu negócio é fazer amizade. Tava na Bahia morando numa aldeia indígena, fiquei 10 meses lá. Só vim embora porque eles quiseram me bater. (Risos.)

OU!: O senhor aprendeu alguma coisa com eles relacionada à arte?

W: Olha, os índios não usam essa tinta da gente, eles usam tinta de jenipapo... Um negócio assim.

OU!: O senhor já foi pra São Paulo, Bahia, veio de Goiás... Onde é que o senhor não passou ou gostaria de ir?

W: Tem tanto lugar que eu gostaria de ir... Eu gostaria de ir mesmo pra um país onde valorizassem a arte.

 

OU!: Como é pro senhor viver disso?

 

W: É um pouco complicado porque às vezes pra eu poder sobreviver vou ter que dar meu trabalho quase de graça. Dão valor na arte quando é barato. Acho que também por recurso, né? Hoje em dia tá muito difícil. Às vezes a pessoa tem 50 reais no bolso, mas precisa comer, aí sobra 5.

 

OU!: O que é a rua pro senhor?

 

W: É minha oficina de trabalho. O artista de rua tem que estar onde o povo tá. Aqui é o caminho de todo mundo.

 

OU!: Quantos quadros  o senhor vende por dia?

 

W: É muito relativo, vai dependendo da venda.

 

OU!: O senhor já chegou a levar quadro feito pra casa e voltar com ele no outro dia?

 

W: Sim, é o que mais acontece. Agora muitas das vezes pra eu não ter que voltar com ele eu costumo fazer bem mais barato pras pessoas comprarem. E mesmo assim tá difícil.

 

OU!: Quando a gente veio aqui da outra vez o senhor disse que a rua era a faculdade do senhor.

 

W:  Na verdade a verdadeira faculdade não tá em quatro paredes, tá aqui na rua. Assim eu acredito que seja. Eu fiz curso, mas aprendi muito pouco e é por isso que eu falo que tinha o dom e não sabia.

 

OU!: O senhor almoça por aqui mesmo?

 

W: Eu to tão cansado dessa comida de restaurante que deixo pra jantar só em casa.

 

OU!:  O senhor passa o dia inteiro sem comer?

 

W: A gente come muita bobeira. Essas comidas não tem tempero...

 

OU!: O senhor gosta de cozinhar?

 

W: Eu gosto de comer. Principalmente a comida da minha mãe. Quando ela faz uma panela tem que ser grande.

 

OU!: Não é pesado carregar tudo isso não? Eu vi que o senhor tem carrinho, mas aqui tem muita ladeira.

 

W: Eu venho dentro do ônibus com isso aqui.

 

OU!: Tem alguém aqui na praça que trabalha com pintura também?

 

W: Olha, do outro lado da rua ali que faz aquele desenho de pessoas.

 

OU!: Tem um grupo específico que costuma comprar ou é bem variado?

 

W: Gostou, levou. Todos gostam, mas poucos levam.

bottom of page