
RAFAEL DE OLIVEIRA
Pauta: Edivaldo Junior, Julia Barduco, Juliana Kopp e Lucas Raniel;
Realização: Julia Barduco, Juliana Kopp e Lucas Raniel;
Edição: Julia Barduco.
Rafael de Oliveira é pai, esposo, leonino e artista desde sempre. Iniciou a vida artística escrevendo protestos, publicou um livro e fez canções para diversos músicos. Faz questão de dizer que não trabalha com arte por dinheiro, mas sim por
Olhe Udi!: Você pode nos contar um pouco de sua vivência?
Rafael: Eu escrevo poesia desde que eu era adolescente, fiz parte de um movimento punk e eu escrevia protestos. Um dia, organizando esses protestos que eram escritos em folhas soltas e as vezes até se perdiam, comprei um caderno e comecei a escrever essas letras lá. No fim desse caderno escrevi algumas coisas que eu não tinha coragem de falar pra ninguém, sabe? Ai eu falei “pô, vou escrever pra mostrar pra galera”. Algumas pessoas até gravaram músicas minhas, mas eu nunca tive disciplina pra ensaiar. Depois de um tempo comecei a lançar minhas poesias, tentei publicar alguns livros inclusive, mas aqui em Uberlândia a coisa é muito feia, não quero perder a minha alma pra um grupo que está todo ano na política, só aprovando projetos.
OU!: Quando foi a primeira vez que você vendeu sua poesia na rua?
R: Eu fumo cigarro de papel né, dai eu passei em frente à um bar e eu tava com vontade de fumar um cigarro, mas eu não tinha a grana. E eu falei “pô, eu tô aqui com esse lance maravilhoso” que era um livreto que eu tinha feito com poesias, capa e desenhos muito loucos, psicodélicos, sabe? Ai eu passei no bar e falei pro pessoal: “ai galera, cês me conhecem ai da quebrada, eu trabalho com poesia” dai eu disse quanto eu gastava pra fazer aquilo e pedi qualquer valor igual ou superior, só pra eu continuar fazendo. Quando percebi que tinha vendido pra todo mundo do bar, foi muito forte pra mim. Tinha partido de mim, era a minha arte ali. Depois de um tempo eu fui para o centro e tal, senti uma necessidade muito grande de viver de uma forma alternativa, depois daqueles primeiros trocados que recebi no bar.
OU!: E sobre os colares que você vende aqui? Qual a história?
R: Eu estava no mato tocando violão e lá tinha uma árvore caída com um cipó, peguei esse cipó e cheguei num artesão amigo meu, pedi para que me ensinasse a fazer algo e ele me ensinou. Nem lembro, de tão rápido, automático e perfeito que foram as coisas. Ele, inclusive, me disse quando me ensinou “pô, Rafael, agora tu não passa mais fome” e eu fiquei chocado, contei que não passava fome e ele, tão sábio, disse que não falava de fome de alimento, mas de tudo. Hoje se eu estou conversando dessa forma é porque a rua me fez assim, tá ligado? Eu aprendi tudo atrás desse pano. Antes era muito arrogante, ainda sou um pouco, mas eu tô trabalhando com isso, com o tempo. Adoro conversar com as pessoas também.
OU!: Quanto tempo faz que isso aconteceu?
R: Eu tinha vinte e sete anos, hoje tenho trinta e três.
OU!: Você continua com a poesia?
R: Sim! Quando eu sento para escrever eu sinto que vai sair algo muito massa. Mas eu tenho filho, sou casado e acaba que não tenho tempo. Eu cheguei aqui agora, de manhã levo de neném na creche e eu estou aqui na cidade, não viajo nem nada assim. Mas eu tenho a meta de me tornar joalheiro, quero trabalhar como design de jóias mesmo. E é isso.
De um modo geral, qual a visão que você tem da rua?
Pra mim? Mesmo? A rua é um lugar meio pesado, não que eu queira que todos entendam o que eu tenho a dizer, mas por ser uma cidade tão grande a galera é muito carente de arte, não entende ainda. Acredito que o meu trabalho é algo que ainda vai acontecer, a galera precisa evoluir ainda pra entender. Voltar a acreditar na energia desses cristais, que é algo tão louco. Gostaria que as pessoas viessem até aqui e deixasse mais que apenas dinheiro.